Eis um dia novo
que irrompe entre os casarões
e os jardins fechados
de uma rua antiga.
Eis semitons sutis
de trinta (e um) abris,
pastéis-cor-de-giz
sobre o velho quadro-negro.
E tu, que me abris
o portão enferrujado,
não notas que cresce ao lado
aquela horta de alecrim,
manjericão e anis?
Observa seu olor,
seu sabor, sua prumada;
e retoma a caminhada.
Eis que vem, vem bem perto,
uma chuva no deserto
dessa cidade em chamas,
após outro longo verão.
Eis um monte.
Uma cruz avermelhada.
Olhares descrentes;
medrosos; ausentes.
Cabeça curvada.
Um grito.
E o nada.
Eis o dia do silêncio.
O dia da saudade.
Dia do pensar
e dia do pesar.
Eis um dia novo
que irrompe por entre as frestas
e a pedra lavrada
de uma tumba antiga.
Eis um portão aberto,
uma pedra removida,
a janela escancarada.
Eis um hoje e amanhã da caminhada.
Eis uma criança que volta a sorrir,
a sanfona que volta a chorar,
boa erva que torna a brotar,
uma casa que torna a se abrir.
Eis um filho,
trinta passos dados,
velho caminho, onde muitos antes.
Muitos antes andaram,
mas caminho novo, dia novo
como é novo todo dia.
Eis um menino,
um papel e uma caneta.
Trinta anos, trinta abris
e mais um poema perneta.
--
Rio de Janeiro
19 de abril de 2011
os montes, ah! os montes... / contam histórias tão distantes / de açaizeiros, igarapés, / dos tempos de antes, / lembranças, sussurros e saudades / aos montes. (Minas Gerais, rodovia Rio-Brasília, 20 de dezembro de 2005)
vida
espiritualidade
pensamentos
impressões
cristandade
Brasil
Rio
Belém
poesia
música
Incas
dor
jovem
mundo
cultura
amor
saudade
viagens
arte
in memorian
Ceumar
justiça
morte
natureza
Minas
Sampa
literatura
ministério
Macapá
Missão
Natal
Sarau da Comuna
cinema
criança
família
teologia
tragédia
vídeo
terça-feira, 19 de abril de 2011
Assinar:
Comentários (Atom)
Postagens mais populares
-
André Coelho (em memória a Elza Nilander) Vida, estranha vida: incerta; simples; e linda. Curta, como um sopro. Larga como um rio. Profunda ...
-
André Coelho são Teus pés a que me curvo, mesmo mais torto meu caminho, mesmo o dia mais turvo. quando me aperta o espinho, quando de noites...
-
André de Barros Coelho Das profundezas clamo a ti, Senhor. Meu coração está coberto de nuvens negras, como as planícies da Amazônia. Me...
-
André Coelho no fundo dos olhos escuros, no escuro dos fundos olhos, a retina seca. lágrimas: um copo cheio, e um prato de cinzas; o sono nã...
-
Silêncio urgente e necessário. Ressignificação da pausa. Desaceleração. Contemplação. Monotasking. Não-registro. Desconexão. Equilíbr...