os montes, ah! os montes... / contam histórias tão distantes / de açaizeiros, igarapés, / dos tempos de antes, / lembranças, sussurros e saudades / aos montes. (Minas Gerais, rodovia Rio-Brasília, 20 de dezembro de 2005)
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Natal Amazônico (se Jesus fosse paraense...)
“E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, para que todo o mundo participasse do Censo. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu também José, da cidade de Santarém, à cidade chamada Belém, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em fraldas, e deitou-o num tacho de farinha de mandioca, porque não havia lugar para eles na palafita.
Ora, havia, na região das ilhas, pescadores ribeirinhos que trabalhavam durante as vigílias da noite. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.
E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois vos nasceu hoje, na cidade de Belém, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em fraldas, e deitado num tacho.
E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.
E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pescadores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber.
E foram apressadamente, e acharam Maria, e José, e o menino deitado no tacho. E, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita; e todos os que a ouviram se maravilharam do que os pescadores lhes diziam. Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração.
E voltaram os pescadores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito.”
(paráfrase de Lucas 2.1-2)
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Me impressiona e inspira o fato de que Jesus era alguém do povo, um homem nascido numa cidade real e histórica, mas pequena em relação a Jerusalém; criado numa região periférica da nação, a ponto de Natanael ter perguntado de forma preconceituosa: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (João 1.46). Um jovem falando em parábolas sobre o Reino de Deus, pregando o amor e a paz.
Gosto de imaginar que, se Jesus fosse brasileiro, e se fosse paraense, teria sido visitado, ainda bebê, por alguns pajés que o teriam presenteado com vasos de cerâmica decorada, patchouli e banhos de ervas. Diferente, não? Pensar que ele foi visitado por magos do oriente, que certamente estudavam os sentidos ocultos dos astros e outras coisas.
Se Jesus fosse paraense, teria navegado muitas vezes entre Belém do Pará, Macapá, Santarém e Manaus, visitando as populações suburbanas e ribeirinhas, onde teria feito seu ministério, multiplicando farinha e tucunaré para alimentar a comunidade. Entre seus discípulos mais chegados, alguns pescadores, um fiscal da receita federal e um ativista do MST.
Em sua última janta (na Bíblia chamada de “ceia”), teria tomado a vasilha de açaí nas mãos, dizendo aos discípulos: “Este é o novo testamento no meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de mim.” E, da mesma forma teria feito com a farinha de tapioca, dizendo: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.” (1Coríntios 11.24-25)
Teria sido traído por um deles, que o entregou à Polícia Federal em troca de um salário mínimo, e teria morrido em Brasília, junto a ladrões, acusado de causar perturbação pública.
Nós, brasileiros, provavelmente teríamos ficado sabendo de sua morte naquele mesmo dia, via rádio, televisão, jornais e internet. Muitos iriam rir, dizendo: “Morreu mais um maluco.” Outros diriam, como Natanael: “Pode vir alguma coisa boa do Norte?”. Outros iriam ler e ouvir sobre o seu ministério e dizer: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus.” (Marcos 15.39).
Mas eu me pergunto seriamente: qual seria a minha atitude se Jesus vivesse nos dias de hoje? Eu o escutaria? Eu o abrigaria em minha casa? Eu andaria com ele? Eu me arriscaria a ser confundido com um de seus seguidores “malucos”? Eu comeria com ele à mesma mesa? Aceitaria andar como ele andou, misturado com o povo, ensinando os pobres, condenando os ricos e contrariando os sacerdotes?
Eu sou, ou não sou um discípulo de Jesus?
Encerro com este texto intitulado Bênção Franciscana, atribuída a Francisco de Assis. No advento desde ano de 2011, faço desta bênção a minha oração para a vida de cada um que me lê, assim como para mim mesmo.
Que Deus te abençoe com
um desconforto inquietante sobre as respostas fáceis,
as meias verdades e as relações superficiais,
para que possas buscar a verdade corajosa
e viver profundamente em teu coração.
Que Deus te abençoe com sagrada raiva à injustiça,
à opressão e à exploração de pessoas para que possas trabalhar incansavelmente pela justiça,
liberdade e paz entre todas as pessoas.
Que Deus te abençoe com o dom de lágrimas
para derramá-las com aqueles que sofrem de dor,
rejeição, fome ou a perda de tudo aquilo que eles amam,
para que possas estender a mão para lhes dar conforto
e transformar a sua dor em alegria.
Que Deus te abençoe com a tolice suficiente
para que creias que realmente podes fazer diferença neste mundo,
para que possas com a graça de Deus,
fazer aquilo que os demais insistem ser impossível.
E que a benção de Deus, Suprema Majestade e nosso Criador,
Jesus Cristo a Palavra encarnada que é o nosso irmão e Redentor,
e o Espírito Santo, o nosso Advogado e Guia,
seja contigo e permaneça contigo e com todos,
hoje e para sempre.
Amém.
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2 comentários:
Lindo texto, André. Adoraria estar na multiplicação: imagine tucunaré a fartar!? Maravilha!!!!
Muito interessante pensar que se tudo acontecesse conforme você imaginou, hoje nós compartilharíamos a tapioca e o o açaí como o corpo e o sangue de cristo na ceia do Senhor, ao invés do pão e do vinho.
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