quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O corpo: local de adoração, graça e saúde*

André de Barros Coelho

Que os cuidados com o corpo são um ensinamento bíblico desde o Antigo Testamento, disso não há dúvidas. Vale sempre lembrar as diversas leis instituídas sobre a qualidade dos alimentos, o cuidado e asseio diante de diversas doenças, os cuidados com a casa e outros diversos preceitos (conferir Levítico 11-15; Deuteronômio 12.15-32, 14.3-21, 22.13-23.14), muitos dos quais são seguidos até hoje por diversos grupos religiosos.

Também não é novidade que o nosso corpo é templo do Espírito Santo. O Novo Testamento afirma que o Espírito de Deus habita em nós, e que cada um de nós é templo (1Coríntios 3.16, 6.19), o que significa, entre outras coisas, que nossa vida e nosso corpo são um local de adoração a Deus, lugar de sacrifício e de graça.

OS HOMENS MORREM MAIS DO QUE AS MULHERES  Desde que o Governo Federal começou a veicular a campanha da Política Nacional de Saúde do Homem, há quem se pergunte: – Pra quê tanto alarde? Até que ponto isso tudo é necessário?

É o próprio Ministério da Saúde quem se adianta e responde. No Brasil, a cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens (57,8%). Entre os jovens com 20 a 30 anos de idade, o número de homens sobe para quatro a cada cinco mortes. Além disso, os homens vivem em média sete anos a menos que as mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer (especialmente de pele e de próstata) entre a população do sexo masculino cresceu quase 200% entre 1980 e 2005. Além do câncer, entre as principais causas de morte em 2005, estão as doenças isquêmicas do coração (entre elas o infarto do miocárdio), doenças cerebrovasculares, homicídios, suicídios e quedas acidentais.

Mesmo que não sejam surpresa, esses não são os únicos números que fazem soar o alarme de cuidado!... Dentre as causas de internação de homens de 15 a 59 anos nas unidades do SUS em todo o Brasil no ano de 2006, estão em primeiro lugar as diferentes manifestações de violência (mais de 800 mil casos) e os transtornos mentais e comportamentais (quase 370 mil casos).

O HOMEM BRASILEIRO CUIDA POUCO DE SI MESMO – Os números da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-SP) mostram que 50% dos homens vai ao médico por pressão da esposa ou namorada. O preconceito (quando o homem se acha invulnerável a doenças) e o medo (quando ele receia receber uma má notícia, por exemplo) estão entre os fatores que reduzem a ida dos homens ao médico em relação às mulheres. “(...) os homens, por uma série de questões culturais e educacionais, só procuram o serviço de saúde quando perderam sua capacidade de trabalho.”, afirma José Gomes Temporão, ministro da Saúde.

As pesquisas do Ministério da Saúde revelam ainda que, na hora de fazer o planejamento familiar, o peso continua a recair sobre as mulheres. Entre 2007 e 2008, o número de mulheres que se submeteu a cirurgias de esterilização foi o dobro do número de homens.

Para completar, o sedentarismo, um dos grandes fatores de risco para doenças crônicas, alcança hoje 26,3% da população brasileira (29,5% entre os homens). Na terceira idade, o número ultrapassa os 50%.

Na opinião do secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, os homens brasileiros “foram educados para não chorar e manter a couraça de que são ‘machos’. Também alegam que são os provedores e têm medo de que se descubram doenças, mas hoje as mulheres são tão provedoras quanto eles”.

O HOMEM É PROVEDOR – Ainda que o homem não seja mais a única âncora financeira nas famílias brasileiras, especialmente nos grandes centros urbanos, dividindo esse posto com as mulheres, é um princípio bíblico que o homem seja, da casa, o provedor de amor.

Segundo o conselho de Paulo às comunidades cristãs de Éfeso e Colossos (Efésios 5.25,28; Colossenses 3.19,21), o homem deve amar a sua mulher e não se irritar com ela. Não apenas isso, precisa amá-la como ama ao seu próprio corpo. Mais ainda, o pai não deve irritar a seus filhos.

Cuidar para que a esposa e os filhos tenham saúde física e emocional é um papel do homem. O amor que um homem fornece à sua esposa vai ser percebido pelos filhos na maneira como a mãe cuida deles. O amor que um pai fornece aos seus filhos vai torná-los mais seguros de que são amados e de que estão protegidos. Da mesma forma, o amor que o homem fornece à sua esposa e filhos, bem como o amor que um jovem fornece a seus pais e irmãos, pode reverter-se em amor e cuidado também deles sobre a sua própria vida.

O fato de que, nos dias de hoje, a mulher cada vez mais participa das finanças do lar (inclusive como provedora de sustento), deve também abrir espaço para que o homem cuide de si mesmo de forma mais equilibrada – seja exercitando o corpo, seja valorizando o tempo de repouso, seja cuidando de sua mente e suas emoções.

O REPOUSO E O LAZER NA BÍBLIA – É comum que o muito trabalho torne-se, na vida do homem, uma espécie de areia movediça. O autor de Eclesiastes afirma que, após considerar todo o trabalho que ele, com fadiga, havia feito, percebeu que tudo era vazio de sentido, como se ele estivesse correndo atrás do vento (Eclesiastes 2.11). Quanto mais trabalha, e quanto mais espaço conquista, mais espaço o homem quer, de forma que o equilíbrio entre o sustento familiar e o repouso necessário – duas necessidades – às vezes foge ao controle do próprio homem.

No Israel antigo, havia um princípio: separar um dia por semana para o descanso. Certamente todos sabemos que, segundo o relato bíblico, quando Deus criou o mundo, o fez em seis dias e descansou no sétimo (Gênesis 2.2-3). O Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, traz-nos diversas posturas quanto ao repouso do corpo (Êxodo 35.1-3), assim como quanto ao repouso da terra em que se cultivem animais e plantas (Levítico 25.1-17).

De acordo com essas posturas, o homem deveria trabalhar seis dias e descansar no sétimo, santificando esse dia ao Senhor. Também deveria o homem, após trabalhar durante seis anos, separar o sétimo ano para o descanso solene da terra. Tudo isso nos mostra que, para o povo judeu, o descanso era sagrado.
Também o livro de Eclesiastes nos traz conselhos muito especiais. Na compreensão do sábio, autor do livro, é um dom de Deus que o ser humano possa comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho. Afinal, alegrar-se em suas próprias obras é a recompensa que o homem tem pelo seu próprio trabalho, dado por Deus (Eclesiastes 3.9-15,22).

O equilíbrio na vida é valorizado tanto pelo sábio, que propõe a moderação em tudo (Eclesiastes 7.15-22), quanto pelo apóstolo Paulo, que propõe a paciência, a mansidão e o domínio próprio como fruto do Espírito Santo, que habita no crente (Gálatas 5.22-23).

Dar ao corpo o tempo de descanso de que ele necessita e dar à mente o lazer que também lhe é necessário devem ser imperativos do homem, especialmente o homem cristão. Na conclusão de seu livro, o sábio de Eclesiastes afirma que Deus pedirá contas a cada homem pela maneira como tiver aproveitado a sua juventude (Eclesiastes 11.9-10).

Os números do Ministério da Saúde mostram que a taxa de suicídios entre os homens brasileiros cresceu, nos últimos 30 anos, aproximadamente 40% e que quase 370 mil homens foram internados em 2006 por transtornos mentais e comportamentais, o que indica que o homem brasileiro não está doente apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

Diante disso, não há dúvidas de que é uma tarefa do homem cristão andar na contramão desses números, fazendo de seu corpo um local de adoração e graça, e de sua vida e seu lar um lugar de saúde.


* Texto publicado na revista Homem Batista, primeiro trimestre de 2010.


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