André Coelho
uma mulher quebrou-me em pedaços;
os homens pisaram;
e virei farelo piracuí.
o vento – aquele
que não se sabe de onde vem
nem para onde vai,
mas se ouve a sua voz –
bateu forte
e misturou meu pó na terra,
de onde vim.
choveu
e fui parar no igarapé
com pitiú de cobra.
mas um homem,
aliás, o filho do homem,
achou-me ali,
suja tabatinga
com restos de folhas
e ferpas de madeira.
e agora me olha enternecido,
como a cadela à sua cria,
e (meu Deus!) limpa-me
e pergunta se quero ser vaso.
e pergunta se quero ser vaso.
e pergunta se quero ser.
e pergunta se quero.
e pergunta.
quanto tempo suportarei em silêncio?
Rio de Janeiro, RJ
2006
GLOSSÁRIO
piracuí: farinha de peixe – o peixe é salgado e seco ao sol, e depois apiloado; o processo é muito comum nas populações e cidades do baixo rio Amazonas; o peixe comumente usado é o Acari, mas também pode-se fazer com carne de jacaré.
igarapé: pequeno rio amazônico; não confundir com riacho.
pitiú: cheiro forte, impregnante, normalmente de peixe. a expressão é indígena e muito usada entre os nortistas, podendo referir-se também ao cheiro de cobra, ovo cru, e odores do gênero.
tabatinga: uma espécie de argila branca, encontrada em muitos igarapés.
os montes, ah! os montes... / contam histórias tão distantes / de açaizeiros, igarapés, / dos tempos de antes, / lembranças, sussurros e saudades / aos montes. (Minas Gerais, rodovia Rio-Brasília, 20 de dezembro de 2005)
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sábado, 8 de março de 2008
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Um comentário:
Menino, nunca me dissestes que és poeta... São lindos esses teu escritos!
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